sexta-feira, 8 de setembro de 2017

União na colheita de sementes da resistência

Agricultores no processo de bater o feijão Foto: Isrraela Rodrigues Alves
As famílias da roça comunitária plantaram 35 kg de sementes crioulas (sementes da resistência) de feijão laje e colheram 690 quilos de feijão. As sementes serão armazenadas no Banco Comunitário de Sementes (BCS) do Sítio Açude em Maravilha/AL. “No Banco não tinha mais sementes, agora, a gente vai armazenar toda semente no Banco Comunitário, e no próximo ano as famílias tem sementes crioulas garantidas para o plantio”, disse um dos sócios do BCS, Reinaldo Barbosa Lemos.
Em 2012 no BCS as famílias de agricultores armazenavam cerca de 800 kg de sementes crioulas, mas ao longo dos últimos cinco anos, devido à estiagem prolongada houve perda das sementes. A estratégia dos associados do BCS foi unir forças e cultivar a roça comunitária, por isso, aproveitaram o período chuvoso, e no dia 30 de maio semearam as sementes da resistência. O resultado do esforço conjunto foi colhido no último dia 16 de agosto.
Após a colheita as vinte famílias trabalharam no processo de secagem. E no dia 03 de setembro foram para etapa de bater o feijão. “Agora vamos esperar o dia de sol para deixar as sementes secas e depois armazenar nas bombonas que conseguimos do Programa PMAIS da ASA”, ressaltou Reinaldo Barbosa Lemos.
A divisão dos trabalhos para o cultivo coletivo é uma experiência nova na comunidade “Foi à primeira vez que a gente fez uma roça comunitária, e um foi ajudando o outro, desde o plantio até chegar o processo de bater o feijão, mas ainda temos outros trabalhos e a gente vai continuar. Se agente não fizesse o trabalho em grupo não conseguiria as sementes crioulas para o Banco. E a gente aprendeu a trabalhar em grupo com as capacitações realizadas pelo pessoal dos Programas da ASA”, falou a agricultora Maria José Rodrigues Alves, 58 anos.
Além do processo de formação para convivência no Semiárido, as famílias conquistaram estrutura para fortalecer o Banco Comunitário de Sementes Crioulas, através do Programa de Manejo da Agrobiodiversidade Sementes do Semiárido (PMAIS), da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), e executado pela Cooperativa dos Bancos Comunitários de Sementes (Coppabacs) da (ASA Alagoas).
Banco Comunitário de Semente
Fotos: Isrraela Rodrigues Alves
O Banco de sementes crioulas armazena vida, que é considerada um patrimônio cultural da agricultura familiar. Essas sementes foram passadas de geração em geração e são adaptadas ao clima e ao solo do Semiárido. “A semente é boa e a gente só fez plantar e não precisou de agrotóxico. Amadureceu toda de uma vez e secou toda por igual”, destacou a agricultora Maria José Rodrigues Alves.
As sementes crioulas tem qualidade natural, não são geneticamente modificadas em laboratório e não corre o risco de contaminar a saúde humana e animal. Além do mais não existe o risco de pagamento de royalties pelo seu uso, porque não são patenteadas como as transgênicas, e existem agricultores (as) que trocam sementes e doam, em uma prática solidária.
Mas, muitas sementes crioulas foram perdidas, e outras contaminadas com sementes transgênicas, que são comercializadas e distribuídas para os agricultores e agricultoras, inclusive pelo Estado.
Um dos grandes desafios da agricultura familiar no Semiárido alagoano é proteger a semente crioula, uma vez que as politicas de governos contribuem para fortalecer o agronegócio e desmontar a agricultura familiar. Principalmente quando a LEI 6.903 de 03 de janeiro de 2008, sobre a criação do Programa Estadual de Bancos Comunitários de Sementes não foi regulamentada.
Elessandra Araújo

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